10 dezembro 2005

Crítica do filme: Irreversível


Você já andou de montanha Russa com a barriga cheia, pulou de Body Jump ou similares? É essa sensação nauseante que você terá ao assistir a maior parte desse filme indescritível. Um verdadeiro chute no estômago. No início os letreiros do filme ou os créditos dão inicio ao clímax entrando de tráz para frente para se entortar e fugirem da tela, dando a impressão de retrocesso e tempo. A partir daí o expectador pode travar o cinto de segurança na poltrona para não cair. O filme narra a história de uma belíssima mulher chamada Alex (Mônica Bellucci) que é estuprada num tunel. Seu marido (Vincent Cassel) inconformado, junto com o ex namorado da moça e amigo do casal, promete vingança. O filme é contado de trás para frente e a câmara do Diretor Gaspar Noe, na primeira parte da projeção é nervosa, com fotografia pesada e destorcida, com abuso do vermelho, lembrando o nervosismo dos personagens. São horas tensas e águas turvas e a trilha sonora angustiante, com sons arranhados vão pontuando as cenas. O objetivo do Diretor torna-se claro, pretende mostrar descontrole, agonia, raiva (e consegue).Quando chega finalmente a cena mais chocante do filme (a do estupro) que talvez figure entre as mais fortes e angustiantes da história do cinema, a camêra já não se move mais, tudo é demasiado forte e o objetivo é chocar, e é essa sensação que temos. Tipo, olhe e não feche os olhos, tá bem focado para você testemunhar. Não está apavorante? O estuprador vai falando para a personagem e sentimos a angústia e dor da mesma. O ápice do filme começa a chegar ao fim (a montanha russa finalmente fez suas decidas e seus loopings). Agora a câmera se torna mais estática pois está contando fatos "tranqüilos" do cotidiano de pessoas "comuns" antes dos acontecimentos trágicos, a tonalidade das cores também vão se amaciando em tons azulados ou pasteis. Sabemos previamente que todo o mal estar das cenas chocantes já sumiram e serenamente iremos saborear momentos bucólicos até o final ou o começo (o expectador suspira aliviado).No final o diretor tenta explicar a idéia do filme com sua ótica do mundo, filosoficamente no final os letreiros elucidam sua idéia com "...o tempo destrói tudo"! Uma completa enganação. Será que as imagens mostradas propuzeram chegar a essa simples reflexão?Já que os responsáveis por esse filme quiseram bancar pseudo-filósofos não seria melhor terem dito que o tempo modifica tudo, se levarmos em conta que nada se destrói mas tudo é transformado ou modificado? A pretensão de chegar a essa conclusão brilhante quase põe a idéia toda no buraco. Constituiu-se num erro lamentável. Alguns diálogos bem repetitivos, também foram mal escritos. Contudo se levarmos em conta que o objetivo principal do filme está no seu realismo frenético, talvez tenha-se optado pelos diálogos livres, quase improvisados. O filme é muito bom ou horrível ao extremo depende da resistência de quem for experimentar. Não é qualquer um que pode pular de body jump, e se por acaso 'entrou de gaiato', não repetirá a experiência apavorante de novo com certeza.Contra indicado para cardiácos, pessoas fracas ou conservadoras. É do tipo de filme que se ama ou se odeia mas que ninguém, com certeza, fica indiferente.
Ficha Técnica:
Título Original: Irreversible/ Gênero: Ação/Drama/ Tempo de Duração: 99 minutos/ Ano de Lançamento (França): 2002/ Estúdio: Studio Canal / 120 Films / Grandpierre / Eskwad / Rossignon / Les Cinémas de la Zone / Nord-Ouest Productions/ Distribuição: Lions Gate Films Inc./ Direção: Gaspar Noé/ Roteiro: Gaspar Noé/ Produção: Christophe Rossignon/ Música: Thomas Bangalter/ Fotografia: Benoît Debie e Gaspar Noé/ Desenho de Produção: Alain Juteau/ Figurino: Laure Culkovic/ Edição: Gaspar Noé / Com: Monica Bellucci (Alex); Vincent Cassel (Marcus); Albert Dupontel (Pierre); Philippe Nahon (Philippe); Jo Prestia (Le Tenia); Stéphane Drouot (Stéphane); Mourad Khima (Mourad); Jean-Luis Costes; Gaspar Noé
Por: Rony A. Fernandes Conceição