09 dezembro 2006

Crítica dos filmes de Cassavetes

-Uma mulher sob influência (A woman under the influence-1974)

Que efeito sofreria o contexto de um filme se fosse utilizado parentes do próprio diretor para viverem personagens comuns da vida real: mãe, sogra e esposa? A resposta pode possivelmente ser respondida ao assistir filmes de Cassavetes como "Assim falou o amor" e este aqui "Uma mulher sob influência".

Gena Rowlands esposa do diretor Cassavetes na vida real interpreta a dona de casa Mabel, que sofre de distúrbios psiquiátricos. O modo pela qual Rowlands compõe sua personagem é tão autentico que a impressão é que estamos assistindo um conflito cotidiano de uma família a beira de um colapso. (Peter Falk) interpreta o marido de Mabel, Nick, que trabalha num estaleiro, o típico trabalhador braçal, com amigos e olhos vesgos. Todo conflito familiar está na relação e a influência que o marido tem sobre Mabel. A unidade familiar tentando ser mantida mesmo que tudo o que está sendo mostrado para o espectador é um desastre eminente.

Não faltam no filme, cenas típicas do cinema de Cassavetes em que o elenco interpreta não só improvisando diante de um contexto pré-estabelecido, mas, com os poros. Na cena em que Mabel está prestes a ser internada (Katherine Cassavetes) sogra na vida real e no filme de Rowlands, retruca para o psiquiatra em defesa da decisão do filho, levem essa mulher daqui, ela é louca. A histeria da voz e a insustentabilidade é tão real que é impossível não indentificarmos algo familiar da típica sogra que ao mesmo tempo que sente pena da nora quer arranjar alguma solução para mudança da situação. A cena é contraposta com outra onde os sentimentos de Mabel que assim que retorna da clínica fala para o pai: me defenda. (Lady Rowlands), mãe da protagonista no filme e na vida real, tem reações típicas de uma mãe que vê os problemas da filha e não pode alterar nada. Tudo é dito apenas com um olhar de comoção.

Aliás, o filme não é nada simples, as emoções que esse desperta são complexos e pouco comuns. A trilha sonora é bem pontuada e reflete um clima triste e depressivo, a narrativa absorve naturalmente deixando um clima tenso quase insustentável. Mabel retruca quase no final algo tipo: desse jeito vão achar que eu sou realmente louca. Será que a influência que o personagem Nick tem nas reações de Mabel são as mesmas buscadas pelo diretor Cassavetes para com Gena Rowlands (despir as reações de sua esposa para sua câmera)? A finalização fechando as cortinas do teatro armado, também para o espectador como voyer, mostra o quanto o cinema pode brincar com o real e o imaginário. Verdadeira Obra prima, este filme está entre os melhores de Cassavetes e entrou na minha lista de preferidos.


-Sombras (Shadows, 1959)

Este filme de Cassavetes tem uma grande importância histórica. Além de ter sido o primeiro do diretor, esse cultuado filme apresentou pela primeira vez o esboço do que caracterizaria a sua filmografia. O improviso informal de cenas cotidianas realizadas por um grupo de atores. Com um orçamento modesto e um certo amadorismo o filme desagrada em alguns aspectos: não possui, por exemplo, a unidade e perspectiva para seus personagens,os cortes são bruscos e há momentos de estrema lentidão. Mas alguma coisa acontece de absorvente quando nos deparamos com essas imagens. A experiência é toda underground, improvisado como a trilha sonora do filme composta por jazz. A película tem semi-histórias com grupos de pessoas boêmias se encontrando em bares, festas, inferninhos e tecem relações onde a base é o diálogo. Todos os atores interpretam com os seus nomes e apelidos reais, talvez, garantindo, assim, a autenticidade das atuações e a proposta primária do diretor em manter tudo próximo do real. Há pelo menos uma história central acontecendo: a relação da personagem Lélia (Lelia Goldoni) e Tony (Anthony Ray)e o conflito racial, tema utilizado nos primeiros filmes do diretor. Lembrando que nesse período havia a segregação racial nos Estados Unidos. Há uma cena emotiva quando Lélia perde a virgindade. Mas o tema não difere muito dos filmes para adolescentes dos dias atuais. A profundidade dos sentimentos garantidos pelo método de interpretação é que faz o filme fugir do que seria um clichê ou lugar comum. A finalização brusca é seguida por uma explicação posterior ao estilo Orson welles- "O filme que viram foi uma improvisação".

-Faces- 1968

Para muitos críticos este filme é o início da trilogia do casamento que Cassavetes construiu. Os outros dois são: "Assim falou o amor" e "Uma mulher sob influência". Aqui não encontramos o começo ou o meio da relação de um casal, mas o fim, através da discussão de temas sérios como o divórcio, o tédio e a insatisfação no casamento. O método de Cassavetes aqui está plenamente definido, por vezes é de uma crueza ímpar. E o filme apresenta problemas técnicos que devem ser reavaliados de acordo com a estrutura que é passada ao espectador. Talvez seja o filme dele que mais pode ser analisado sob os aspectos interpretativos de estilo. Numa cena vemos um casal virando cada um para o lado mostrando a crise que já se instalou nesse lar, para em outro plano aparecer o marido pedindo o divórcio. As personagens entediadas e vazias não podem ser comparadas com personagens de filmes como "A noite", pois estas são vistas de forma semi-documental. Aqui, encontra-se um filme sobre a falta de sentido da vida e a estagnação do casamento na meia-idade. Mas o diretor Cssavetes consegue imagens muito bonitas, está entre os melhores filmes do diretor e entrou na minha lista de preferidos.

-Assim falou o amor (Minnie and Moskowitz-1971)

Filme no mesmo nível de "Uma mulher sob influência", sendo que neste aqui a tonalidade sombria e melancólica do casamento conturbado das outras obras do autor, é substituído pela paixão das primeiras relações conjugais. Minnie (Gena Rowlands) é uma linda e solitária mulher que tem forte influência sobre os homens porem sempre atrai os caras errados. Até que aparece um manobrista na sua vida, Moskowitz, que pode transformar a vida dela. Cassavetes criou uma das suas melhores obras. O filme é fluente, a narrativa absorve, mas aqui nada é deprecivo, Cassavetes mostra as possibilidades de mudança através das relações. Os diálogos são cômicos e muito bem construídos e há sempre alguma ação acontecendo nesta comédia inteligente. Tem também a seu favor, as ótimas interpretações do elenco no melhor estilo Cassavetes.

02 dezembro 2006

O CCBB apresenta o ciclo: faces de John Cassavetes

John Cassavetes foi um dos ícones do cinema independente americano, enfocou o registro do cotidiano, o mundo da pessoas mais comuns, compôs tipos realistas que representavam todas as dores do cidadão americano. Suas obras foram realizados segundo princípios quase artesanais: orçamento reduzido, produção independente, a mesma equipe de técnicos e atores. Seus filmes são viscerais e radicais entre essas produções, podemos agora conferir entre o período de 05 à 17 de dezembro no Centro Cultural Banco do Brasil:

Sombras (Shadows-1959)
A canção da esperança (Too late blues-1962)
Os maridos (Husbands-1970)
Assim falou o amor (Minnie and Moskowitz-1971)
Minha esperança é você (A child is waiting-1963)
Uma mulher sob influência (A woman under the influence-1974)
A morte de um Bookmaker Chinês (The Killing of a Chinese Bookie-1976)
Glória (Gloria-1980)
Faces (Faces-1968)
Noite de estréia (Opening night-1977)
Um grande problema (Big Trouble-1985)
Amantes (Love streams-1984)
A constant forge (DOCUMENTÁRIO LONGA METRAGEM)